Caminhando pela Feira do Livro, na Praça Saldanha Marinho, na semana passada, deparei-me com um título de um livro que me fez recordar meu tempo de criança: A Sabedoria das Parábolas.
Cresci ouvindo parábolas de meus avós e de meus pais. Quando queriam me fazer pensar sobre determinado fato ou situação, boa ou ruim, vivenciada no dia a dia, na família ou na escola, era lançada uma parábola.
Mesmo com uma família pequena, com apenas um irmão, convivi com muitos primos e, por óbvio, as discussões eram constantes. Sempre que acontecia algum desentendimento, o sermão era certo e vinha acompanhado de uma parábola.
Era uma forma de repreender as discussões, por meio de uma história cheia de alegorias, mas que tinha por objetivo uma reflexão e um ensinamento.
Lembro-me de várias delas, mas uma, em especial, era constantemente relembrada após um desentendimento mais sério entre os primos: O Monge e o Escorpião.
"Certo dia, um monge passeava nas margens de um rio com seus discípulos e ao passarem por uma ponte viram um escorpião sendo arrastado pelas águas. O monge correu pela margem do rio, mergulhou na água e tomou o bichinho na mão. Quando o trazia para fora, o escorpião picou a sua mão e o monge teve que largá-lo devido a dor. Mesmo assim, o monge não desistiu, foi até a margem do rio, pegou um ramo de arvore e estendeu-a, salvando o escorpião. Os discípulos que assistiram à cena falaram surpresos: "Mestre, sua mão deve estar doendo muito! Por que o senhor foi salvar um bicho ruim e venenoso? Veja como ele respondeu a sua ajuda, picando a mão que o estava salvando. Ele não merecia sua compaixão! O monge, então, respondeu: Ele agiu conforme a sua natureza e eu de acordo com a minha. A natureza do escorpião é picar e isso não vai mudar a minha, que é ajudar. E foi por isso que salvei a sua vida."
Essa parábola foi a forma de ensinar às crianças daquela época que não podíamos querer que os outros pensassem ou fossem iguais a nós. Tínhamos que respeitar as diferenças e compreender as reações de cada um, pois elas refletiam uma história de vida. O que não impedia a busca de melhorarmos nossas ações e reações frente ao novo e ao diferente, lembrando que o respeito deveria prevalecer sempre.
As parábolas eram usadas como forma de resgatar valores e tradições para trazer à tona ensinamentos importantes para a convivência cotidiana e para um futuro incerto. Elas instigavam as crianças a observarem de forma mais crítica a realidade, o que, infelizmente, o correr da vida moderna e agitada, vai fazendo com que esqueçamos.
Foi, com certeza, uma forma simples, mas marcante de ensinamento, pois jamais será esquecida.